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CONHEÇA O ARTISTA E ILUSTRADOR ANGELINO VINICIUS!

Este é o primeiro texto da nossa série com artistas LGBTQIAPN+ convidados, com o objetivo de mergulhar no mundo particular de cada um deles, entender seus processos e refletir sobre questões que, muitas vezes, também nos atravessam.


E nesta estreia começamos com o talentoso artista e ilustrador Angelino Vinicius que compartilha parte de sua trajetória, marcada por questionamentos profundos sobre identidade, criação e pertencimento.


“O Pássaro Vermelho/ O Princípe da Destruição” Foto por Vinicius Jordão, “Alma Cigana” 2022
“O Pássaro Vermelho/ O Princípe da Destruição” Foto por Vinicius Jordão, “Alma Cigana” 2022

Por Angelino Vinicius

Abril de 2025


A realidade me informou desde muito cedo que eu era diferente. Hoje em dia me questiono o quanto disso é inato e o quanto disso foi materializado pelas expectativas dos outros e pela necessidade de me enxergar no mundo - mas aqui estamos: eu me sinto, até o presente momento, irrevogavelmente, diferente.


Para mim, ser queer e ser artista são quase sinônimos. Eu me tornei queer através da auto expressão e me tornei artista porque havia algo em mim irrevogavelmente queer que precisa existir. Este período foi investigativo - ainda é. A realização contudo é relativamente recente: Eu não reconhecia que o modo que eu andava pelo mundo era transgressor porque eu era queer - mas porque eu era eu mesmo. E essas coisas todas não significam o mesmo?



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“O último retrato” , 2021
“O último retrato” , 2021

O desenho, naturalmente, veio pra mim como a primeira forma de começar a me comunicar. Me recordo vividamente de estar sentado no chão da sala aos 5 anos e fazer alguns desenhos junto de letras sortidas - símbolos que formariam minhas primeiras histórias. O desenho foi só uma das formas que eu descobri para representar imagens. Meus primeiros auto-retratos, todavia, viriam muitos anos depois, já adolescente, através de fotos, colagens e ilustrações. O que era apenas uma representação física do eu, rapidamente espiralou numa investigação cega e voraz, iluminada pelas luzes de uma juventude muito angustiante. ( "em busca do pertencimento")


Eventualmente e depressa o “eu” não foi capaz de dar nome para as coisas que surgiram a seguir.


Ser artista se tornou um delírio de proporções tão colossais que por vezes não tive um eu para retornar. E assim emergiram, vez ou outra, personas que me permitiram navegar a vida de uma forma sincera. A sinceridade está, em certa medida, na fantasia.


Foto Robert Vieira,  look por @oakhucas
Foto Robert Vieira, look por @oakhucas

“O Pássaro Vermelho/ O Princípe da Destruição”  Foto por  Vinicius Jordão, “Alma Cigana” 2022
“O Pássaro Vermelho/ O Princípe da Destruição” Foto por Vinicius Jordão, “Alma Cigana” 2022


Todavia, há dois anos eu parei de pintar o cabelo, a rotina se tornou mais opressiva, o café se tornou um aliado imprescindível (junto de uma eventual pastilha de ritalina) e diariamente eu tenho de vestir meu eu mais normativo: o professor. A profissão veio até mim (e não eu até ela) pela mesma razão que eu sofro: minha arte. O mundo e a maturidade impôs a mim um eu com mais contornos, menos transeunte, cardeal - e eu tive de obedecer.


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Hoje o mundo demanda algo novo e inegociável: o eu.


Personalidades curvadas a performance e ao desejo irrefreável de serem consumidas são coisas que pertencem à psique de todos, independentemente de serem artistas. O tempo me faz…comum. Me alivio. Mas me canso de fazer minha psique vitrine para o mundo. Há de haver algo que seja universal e verdadeiro a todos - que minha vulnerabilidade não seja uma arma apontada para mim mesmo.


Se a arte se torna menos arrebatadora, o processo mais banal e menos importante, qual é a verdadeira razão e a necessidade de produzir? Essas são questões que pairam no meu presente. E no meio dessa transição de paradigma uma palavra pode começar a se contornar: intenção.



Foto por Alexandre Filho, 2024
Foto por Alexandre Filho, 2024

Quando eu era bem mais jovem do que já sou, eu me virava para a arte como quem busca abrigo. A vida era mais encantadora, e igualmente mais angustiante. Encontrei na fantasia uma maneira de observar e encarar a realidade, e a mim mesmo. Hoje vejo a fantasia como um território potente e perigoso, já que a mesma sem intenção nos torna a ilusão. E a ilusão não serve a realidade. Nos tempos recentes, sinto raiva. O mundo nos enclausura e nos oprime cada vez mais. Vejo que, mais do que nunca, a fantasia deve ser ferramenta para a realidade, e não o contrário.


por Angelino Vinicius




Se algo te tocou nesse texto, comente, compartilhe suas reflexões com a gente! E se você é uma pessoa LGBTQIAPN+ que cria — seja arte, ideia ou projeto — manda uma mensagem. Queremos te ouvir.


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